terça-feira, março 02, 2010

One Shot

Tenho um estranho sabor na boca.
Ah é verdade ontem fui sair e estive a beber. Odeio este sabor. O sabor do dia seguinte. O sabor do exagero e esta porra de dor de cabeça.
Parece que tenho a cabeça cheia de pica-paus.
Merda. Estou nua!
Isso quer dizer que esteve aqui alguém ontem à noite, visto que agora a cama está vazia.
Vá tenho que me lembrar de tudo.
Ora bem, eu fui sair com a Ana e com o Luc. Fomos jantar ao japonês e depois fomos sair.
Lembro-me vagamente da Ana ter de ir para casa mais cedo por causa do trabalho.
Será que fiquei sozinha com o Luc?
Espero bem que não, eu quando bebo não fico em mim... Digo coisas que normalmente não diria. Será que...
Não.
Tenho de me lembrar do resto da noite.
Tenho uma vaga ideia de estarmos no jardim a conversar e de umas raparigas se virem meter com ele. As raparigas não lhe resistem. Tem uns incríveis olhos verdes e um sentido do humor do melhor. E com aquele sotaque francês...
Espero mesmo que...
Não! Adiante.
O que é que aconteceu a seguir, depois de elas se terem ido embora....
Oh não! Eu disse-lhe!
Já me lembro de tudo. Lembro-me de lhe confessar que estou apaixonada por ele. Nunca mais bebo na vida!
Eu não acredito nisto, vou perder a amizade dele se é que já não a perdi a esta hora. Tenho de lhe ligar e pedir desculpa. Digo-lhe que foi da bebida. Qualquer coisa menos a verdade.
Mas espera, como é que eu vim parar aqui a casa?
E com quem?
Será que depois estive em mais algum lado?
Ah sim já me lembro, eu saí dali com a desculpa de ter de ir atender o telemóvel. Não lhe consegui olhar para a cara. Quer dizer, claro que não! Que vergonha...
Sei que bebi mais qualquer coisa e que um fulano qualquer me ofereceu boleia para casa.
Será que foi com ele? Não me lembro bem da cara dele mas acho que era simpático.
Credo, não acredito que cheguei a este ponto. Ir para a cama com um estranho.
Mas eu não vim para casa com ele.
Não era a mão dele que me estava a agarrar o braço e a puxar-me para fora dali.
Não era o braço dele que me rodeou os ombros e me agarrou durante toda a viagem de táxi.
Não era a voz dele que me acordou quando chegámos a casa.
Não era porque eu conheço aquela voz, aquele abraço e aquela mão que depois me guiou escada acima até à minha casa.
Quem me ajudou a entrar em casa, a tirar os sapatos e a despir o casaco não foi aquele estranho.
Foi o Luc.


Agora já me lembro de tudo claramente e não me agrada nada. Mesmo nada.
Eu dormi com o Luc.
Eu não acredito nisto. Se tivesse sido em circunstâncias normais, eu estaria neste momento a explodir de alegria.
Ele estava apenas a ajudar-me a chegar a casa mas uma coisa levou a outra e acabámos aqui.
Apesar de eu lhe ter confessado, ele voltou atrás para me ajudar a voltar para casa, porque ele é meu amigo. E eu acabo por lixar isto tudo indo para a cama com ele. Agora nem amizade nem nada.
Sou tão estúpida.
Eu sei que devia ter-me controlado. Mas quando ele me estava a ajudar a despir o casaco, aquele cheiro dele entranhou-se na minha pele e beijei-o.
Controlei-me tão bem neste último ano. Assisti, quieta do meu lugar, às sucessivas namoradas dele e respectivos fins de namoro. Até assisti e ajudei em algumas pequenas conquistas de uma noite só.
Eu conheço-o demasiado bem. Ele não sabe dizer não.
De manhã arrepende-se sempre e sai pela calada, sem deixar contacto nem nada. E agora foi o mesmo.
Porra, ainda por cima comigo.
Quer dizer, eu e ele! Nós somos amigos! Ou éramos pelo menos.
Ele agora não deve saber como me encarar e nem eu sei como encará-lo. Lá se foi mesmo a nossa amizade.
Preferia tê-lo como amigo para toda a vida do que ter estado com ele apenas uma noite e nunca mais o ver.
Lá está a dor no peito. Por esta altura já me devia ter habituado a ela. Já lhe devia ter dado um nome e já a devia aceitar como quem aceita o sol pela manhã. Mas não, ela continua-me a perturbar como no primeiro dia em que apareceu... e a partir de hoje vai ser presença assídua.
Não me consigo levantar da cama e também não consigo parar de me relembrar de cenas de ontem à noite.
O toque das mãos dele na minha pele.
O bafo quente no meu pescoço.
O sussurrar do meu nome ao meu ouvido.
Merda, mas porque é que eu estraguei tudo!?
A porta ficou aberta?
- Ah já estás acordada. Desculpa ter saído mas fui comprar pão quente e aspirinas. Acho que ambos vamos precisar.
Luc?
- Estás bem? Porque é que estás a chorar?... Estás arrependida?
Eu não acredito nisto...
- Agora estás a rir!... A sério que estás bem?
E ainda perguntas.

8 comentários:

Kiddo disse...

Oh filha, estás optimamente bem!

Mariana disse...

Gostaste?

Kiddo disse...

Muito :) Devias escrever mais vezes, acho que já te tinha dito.

Anónimo disse...

Tu escreves tão bem e publicas tão pouco, Mariana!

Beatriz disse...

Bom! ^^

Tânia disse...

Adorei ler estes textos. Quero mais!:)

Mariana disse...

Obrigada :D

bea7riz disse...

gostei muito. quem faz os desenhos?**