quinta-feira, outubro 23, 2008

Choveu


Choveu.
Depois de ter esperado pela meteorologia durante as notícias da manhã e de confirmarem que estaria um dia de sol, choveu.

Oh mas não foi pouco! Foi provavelmente a maior chuvada que já houve este ano.

Pensei logo que teria de desmarcar o nosso encontro dessa noite. Quer dizer, não fazia sentido um jantar no terraço, só com a luz das velas, debaixo duma chuva daquelas.

Perto das 19h a chuva abrandou, e o vento parecia ter acabado. Ligou-me e disse que nem pensasse em desmarcar o jantar que ele já tinha tudo preparado.

-Está bem! - Disse eu, sem saber do que raio estava ele a falar. Quer dizer, rua, jantar, chuva…não são propriamente palavras que eu juntasse numa só frase, a não ser que começasse por um “Nem penses em…”.

Saí do trabalho, tomei um duche e vesti-me. Esperei, tal como tínhamos combinado, pela mensagem que ele me enviaria para o telemóvel com as instruções a seguir.

“Espero que ele saiba o que fazer!”pensei eu para comigo. Para ser sincera não estava lá com grandes esperanças do que iria acontecer. Mas também ninguém me pode julgar, nos últimos dois encontros ou a refeição ficou feita em pequenos pedaços de carvão ou acabamos por voltar para casa porque afinal o museu não estava aberto, tal como eu tinha insistido umas 400 vezes!

O telemóvel apita irritantemente. A mensagem diz: “Já podes vir. Espero que tenhas fome. Traz galochas! :)

Ele nem precisava de acrescentar aquela última frase porque apesar de eu ter o meu vestido novo, preto, de algodão, ter a minha gabardina bege, estar completamente maquilhada e de usar uma mala super minúscula, também tinha calçado umas galochas amarelas que haviam-me sido dadas pelas minhas colegas de trabalho no anterior Natal.

Depois de percorridos os 600 metros que ligam as nossas casas e depois de me arrepender mil vezes por não ter trazido uns collants mais quentes, cheguei.

Abriu a porta com um sorriso de orelha a orelha.”Nunca é bom sinal”aprendi, entretanto, por experiência própria. Fez-me sinal para entrar, ficou-me com a gabardina e soltou uma gargalhada sonora quando reparou nas galochas.

- Sinceramente, nunca percebes quando estou a gozar contigo, não é? – Disse entre risos.

Disse-lhe que não queria molhar as minhas botas e que aquilo tinha-me parecido uma boa ideia na altura. Sim, realmente, na altura parecia ser uma escolha acertada devido à quantidade anormal de água que caía do céu, mas quando vi o meu reflexo no espelho do hall, reparei que, de alguma forma parecia uma abelha.

De seguida, levou-me até à entrada do terraço, fazendo-me passar pela cozinha. Cheirava bem. Por incrível que pareça não cheirava a queimado nem nada parecido. Cheirava a… lasanha!

Quando terminei de tentar adivinhar o que seria o jantar e desviei os olhos do forno…deparei-me com um terraço mais iluminado do que o costume.

Foi preciso entrar nele para perceber o que o iluminava…pequenas luzes, daquelas que metemos nas árvores de Natal, rodeavam todos os cantos do terraço e no seu centro encontrava-se a coisa mais estupenda que alguma vez tinha visto.

Nem sei bem explicar o que aquilo era. Talvez um misto de tenda com um iglo transparente me pareça ser suficiente para entenderem. Uma espécie de bolha gigante com cerca de 1.60m de altura, com uma pequena mesa posta e duas almofadas de cada lado. Seria ali que nos iríamos sentar. Ah e jantar, percebi dois segundos depois.

Começamos a jantar e tudo corria às mil maravilhas. A lasanha estava deliciosa e a sobremesa também. Estava realmente surpresa por nada ter corrido mal. Ele parecendo que lia os meus pensamentos, disse:

- O que havia para correr mal, aconteceu antes de chegares.

Ri-me. Era difícil de acreditar uma vez que estava tudo tão perfeito…

Estava.

Mal tínhamos acabado de comer a sobremesa, volta a chuvada da manhã. E nós dentro daquele…iglo!

Acabamos por correr para dentro de casa mas não escapamos de levar com uma grande molha.

Já dentro de casa, secámo-nos e acabamos por passar a noite a ver os Sopranos enquanto bebíamos uma chávena bem quente de café. E sinceramente, não havia melhor fim de noite possível.

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