quarta-feira, outubro 29, 2008

A Dor de Pensar

A Morte é inevitável.
Chega mais cedo ou mais tarde, mas chega e não há como escapar. 
Toca a todos.
Enquanto somos novos, muitos de nós têm o privilégio de nunca passar sequer perto dela.
Eu era uma dessas pessoas. 
Não sei hei de agradecer pelo facto de já não o ser ou se hei de sentir pena de mim mesma por já não ter aquela "inocência". Só sei que passei a conhecê-la pelo meu próprio pé.
Não fui sequer obrigada pela minha consciência.
"Ela precisa de alguém ao pé dela neste momento."-pensei.
E fui.
Não fazia ideia do que me esperava. Nunca tinha ido a nenhum velório.
Senti um nó no estômago assim que vi o edifício. Medo? Mas de quê? Do que ia ver...ou do que ia sentir?
Entrei no edifício mas não consegui passar para a dita sala. Paralisei.
Paralisei assim que olhei para a cara dela. Tinha olhos vermelhos de quem passara o dia a chorar e olhava directamente para mim. Mas não me via. Ela não tinha reacção.
Ali estava algo que nunca tinha experimentado e olhando mais uma v
ez para ela, ali também estava algo que eu, seguramente, não queria experimentar.
Cumprimentei-a e agarrando-a num ombro disse: "-Se precisares de alguma coisa, seja o que for..."
Não tinha pensado no que iria dizer quando lá chegasse e depois de vê-la sei que tudo o que teria preparado seria estúpido e insignificante.
E ficámos ali na entrada, a olhar para lado nenhum, num  absoluto silêncio.
De repente chega um casal que a cumprimenta e lhe sussurrou palavras de conforto. De seguida dirigiram-se para as irmãs dela e é ali que vejo outras caras, caras essas com a exacta expressão que ela tinha quando a vi pela primeira vez nessa noite.
E foi ali que saí.
Rebentei em lágrimas e sem saber o porquê.
Não gosto que me vejam chorar mas nem é por nenhuma razão em especial, mas não me deixei ir a baixo em frente dela, ela que realmente tinha sofrido uma perda naquele dia.
Quase cinco dias depois, não sei explicar aquilo.
Mas sinto que cresci.
 


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